Fim de tarde. As pessoas foram chegando de motocicletas, em carros, ônibus e logo se formou uma multidão em frente ao pequeno memorial erguido na beira da estrada - um cenotáfio, como é chamado. No local, o cantinho da imagem de Nossa Senhora de Fátima, muitas flores e uma faixa de saudades.
Quem estava ali, ontem, homenageava o ambientalista José Maria Filho, conhecido como Zé Maria do Tomé, que foi assassinado há um ano no caminho de casa, na estrada que liga a sede de Limoeiro do Norte à pequena localidade do Tomé, na Chapada do Apodi, Região do Jaguaribe.
Agricultor e líder comunitário, Zé Maria lutava por melhorias na comunidade onde morava com a mulher e os três filhos. Protestava contra o uso indiscriminado de agrotóxicos nos plantios do perímetro irrigado Jaguaribe-Apodi.
Para lembrar a data em que ele foi assassinado com 25 tiros (segundo o exame de balística), integrantes da comunidade, lideranças da região, agricultores, integrantes de pastorais sociais e entidades ligadas à proteção ambiental se uniram durante dois dias (terça-feira e ontem) participando de debates, manifestações e celebrações. Lançaram a Campanha Nacional contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Vida e exigiram “punição aos mandantes do assassinato de Zé Maria”. Ontem à noite, os eventos foram encerrados como uma concelebração eucarística presidida pelo bispo diocesano de Limoeiro do Norte, dom José Haring.
Manifestações aconteceram na terça-feira e ontem. Grupo quer lei que leva o nome do ambientalista (Foto: Igor de Melo)
Após 12 meses do crime, a Polícia ainda investiga o caso. “Não tenho informações. Só sei que está na Delegacia de Homicídios”, diz Lucinda Xavier, chamada de Branquinha, mulher de Zé Maria. Ela diz que o tempo ainda é curto para amenizar a falta de sente do marido. “A saudade é a mesma. O tempo vai se distanciando, mas a lembrança continua”.
Branquinha chora quando fala do ambientalista. Mas a emoção não impediu que participasse ontem de todas as manifestações e homenagens realizadas no Sítio Tomé que foram programadas pelo Movimento 21, integrado por membros da Cáritas Diocesana, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Pastorais Sociais, universidades e sindicatos. Ontem, pela manhã, houve mobilizações nos bairros de Limoeiro do Norte, com a entrega de panfletos explicando os malefícios causados pelo uso indiscriminado de agrotóxicos.
O Movimento 21 reivindica a criação da Lei Federal Zé Maria do Tomé proibindo a pulverização aérea de agrotóxicos nas plantações, a destinação de áreas para fins de reforma agrária e a garantia de água de boa qualidade para consumo. Estudo realizado pelo Núcleo Tramas, da Universidade Federal do Ceará, coordenado pela médica Raquel Rigotto, constatou a presença de agrotóxicos na água da região e doenças causadas pelo veneno usado.
ENTENDA A NOTÍCIA
Após a morte de José Maria Filho, intensificaram-se os debates sobre os impactos do uso de agrotóxicos na Chapada do Apodi, onde predomina o cultivo de bananas. Um estudo constatou a contaminação da água na região.
SAIBA MAIS
Os grandes projetos de desenvolvimento no Ceará, como a Rodovia Transnordestina, a transposição do Rio São Francisco, o eixão das águas e a mineração foram temas de debates na última terça-feira, em Limoeiro do Norte, já como parte dos eventos que lembram um ano da morte do ambientalista José Maria Filho.
Houve ainda uma mesa redonda, no auditório da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, sobre os impactos da modernização agrícola na Serra da Ibiapaba, no Baixo Jaguaribe, na Chapada do Apodi e nos municípios de Iguatu e Paraipaba.
Também foi lançado um Cordel com o título: “A Maldição dos Agrotóxicos” ou “O Que Faz o Agronegócio”. Houve ainda a inauguração do Memorial da Chapada, com imagens e objetos que retratam os ideais de justiça e igualdade no campo.
Informações: OPOVO Online, por Rita Célia Faheina
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