O aumento na venda de agrotóxicos, com maior poder de contaminação, preocupa autoridades no Estado.
Alerta, preocupação e incômodo podem resumir os sentimentos gerados com a constatação da manchete do Diário do Nordeste de ontem, baseada em reportagem do Caderno Regional. O tema foi um dos principais assuntos do dia na roda de discussões: dobrou no Ceará a venda de agrotóxicos para a agricultura, ao passo que aumentaram os casos de intoxicação. Autoridades, movimentos sociais, pesquisadores destacaram a matéria, apontando para a necessidade emergencial da fiscalização ou até proibição de veneno. Na Assembleia Legislativa do Estado, deputados compararam, diferenciando as proporções, com a situação do Japão, sobre o que seria uma "intoxicação silenciosa, que mata lentamente". Produtores agrícolas em Limoeiro do Norte questionam alguns números e reclamam que, por utilizarem defensivos agrícolas, eles serem tratados como "vilões".
Na sessão ordinária desta quarta-feira (20/04), na Assembleia Legislativa, pelo menos quatro deputados estaduais se pronunciaram em plenária sobre a reportagem de ontem. Na tribuna, o deputado Lula Morais convidou os deputados a lerem a denúncia do Diário do Nordeste e apontou que o agrotóxico "é um elemento extremamente nocivo para a saúde humana". Ele também destacou o editorial do jornal do dia 19 de abril, que alertou sobre o perigo do uso indiscriminado de agrotóxicos. O texto divulgava pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) que encontrou resíduos de agrotóxicos no leite materno, dada a intoxicação nas mães.
"Tem que ter fiscalização para a gente salvar o nosso sertão e a nossa população", afirmou o deputado Perboyre Diógenes, citando o desaparecimento de pássaros típicos do interior em decorrência da aplicação de venenos. Fazendo a devida proporção, o deputado Wellington Landim comparou a situação do Ceará com a do Japão, onde o acidente na usina nuclear tem causado irradiação. "Aqui é em pequena proporção, mas em larga escala. É gente sendo intoxicada todo dia. É uma intoxicação silenciosa, que mata lentamente", frisou.
Em Limoeiro, o vereador Hélio Herbster aponta para a morosidade da Justiça, diante de tantas evidências. O professor em Direito Ambiental, João Alfredo, também vereador em Fortaleza, destacou a importância da matéria como alerta "principalmente para as instituições que deveriam fiscalizar". Ele citou o caso de uma empresa de bulbos de flores em Paraipaba que funciona há cinco anos sem nunca ter possuído licenciamento ambiental. A Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) só embargou a empresa há um mês, após a Justiça proibir a pulverização aérea de agrotóxicos, que já teriam matado cerca de 20 bovinos, além de colocar em risco o reservatório de água da cidade.
O uso indiscriminado de agrotóxico consta de um levantamento intenso, detalhado, embora de apenas alguns anos. Porém tem recebido atenção na pesquisa realizada por diversos especialistas, com apoio do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e várias universidades, lideradas pela Universidade Federal do Ceará. Em um dos levantamentos feitos com trabalhadores rurais no Baixo Jaguaribe, em um terço dos avaliados, apontou-se para um quadro "que pode ser considerado como intoxicação aguda por agrotóxicos", conforme apurou a pesquisadora Vanira Pessoa, integrante do Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para a Sustentabilidade (Tramas), da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza.
Estudo epidemiológico
A pesquisa é coordenada pela professora Raquel Rigotto, mas é realizada por mais de 20 profissionais das diversas áreas, que culmina em um estudo epidemiológico no Baixo Jaguaribe, desde o contexto socioespacial no trabalho rural do segmento agrícola aos laudos clínicos que apontam os casos de intoxicação. A isso se somam outras evidências de que, no Ceará, tem aumentado a entrada de produtos agrotóxicos, e que esses mesmos venenos estão cada vez mais potentes.
Mais informações:
Campanha Nacional Contra o Uso de Agrotóxicos e Pela Vida da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte: (88) 3423.3222
Fonte: Diário do Nordeste / Reportagem e Foto: Melquíades Júnior
Um comentário:
Não conheço o moderador do blog, mas não entendo o porque de dar tanta importancia a esse crime e deixar os outros de lado. A violencia em Limoeiro é muito grande, devemos nos preocupar com a violencia como um todo, não devemos atribuir a somente um dos assassinatos, sob pena de tirarmos a foco do real motivo e tanta violencia.
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