Em Limoeiro do Norte, quadrilha de assaltantes formada por jovens menores de idade roubava motos. No pátio da polícia Civil de Limoeiro do Norte, as motos roubadas se acumulam e aumentam. (Foto: Mário José)
Está comum andar de motocicleta no Interior com a mesma sensação de quem acaba de sair do banco com uma bolsa cheia de dinheiro. Depois que descobriram que motocicleta é um metal ambulante que vale dinheiro, os bandidos estão roubando moto no Interior como quem rouba bolsa com dinheiro.
Usadas para cometer outros crimes de pistolagem, assalto e, principalmente, desmonte para venda das peças no mercado negro, as motos são hoje o que as bicicletas foram um dia: o grande meio de transporte. De acordo com a Delegacia de Roubos e Furtos, em Fortaleza, 1.905 motos foram roubadas no Ceará entre janeiro e julho deste ano. Isso dá uma média de nove motos roubadas por dia no Estado. O maior destino são as oficinas de desmanche. E mais motos nas ruas têm representado mais acidentes com esses veículos. Foram 533 acidentes e 86 mortes somente nas rodovias estaduais.
De dia, de noite, a rua não precisa nem mais estar escura ou isolada. Em qualquer lugar a moto é roubada ou tomada de assalto. E são muitos todos os dias em todas as cidades cearenses. A impaciência dos bandidos é tanta que agora é costume invadir as casas para capturar esses veículos de duas rodas. Foi o que aconteceu na última terça-feira, em Russas, quando dois indivíduos armados roubaram a moto de Emiele Maia Barbosa dentro de casa. Antes de sair ainda efetuaram disparo. Dois dias depois, a Polícia identificou que um dos homens é menor de idade. Eram também menores de 18 anos três dos cinco indivíduos presos em Limoeiro do Norte acusados de participar de uma quadrilha de roubo e desmonte de motos. Mas pelo visto há outras quadrilhas, pois o roubo de motos não para.
Desmonte
De acordo com o inspetor Marcos Vágner, da Delegacia de Polícia Civil de Limoeiro, a maior parte dos roubos é levada para desmanche. É o mesmo que diz o delegado Bruno Figueiredo, titular da Delegacia de Roubos e Furtos, em Fortaleza, que recebe as estatísticas de roubos e furtos de todo o Estado. E os ladrões são rápidos. Se o veículo não for usado para outros crimes (notadamente pistolagem e assaltos), moto roubada é moto desmontada.
De janeiro a julho deste ano, das 1.905 motos roubadas no Ceará, 764 (ou 40%) foram localizadas. E boa parte delas já avariada pelas oficinas de desmonte. Os outros 60% a própria polícia admite que são poucas as chances de recuperação.
Tiro no braço
Na estatística dos sete primeiros meses deste ano, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Caucaia e Crato figuram entre os Municípios com maior índice de roubos. Já uma estatística fiel sobre onde vão parar esses veículos infelizmente está ao cargo do crime organizado. Somente no mês de julho, o Ceará registrou o roubo de 145 motocicletas.
E os encarregados de capturar as motos na garagem de casa ou no meio da rua estão geralmente armados e dispostos a atirar. Na semana passada, prevendo ser assaltado por homens que estavam no acostamento de uma estrada carroçável, um motoclista decidiu não parar. Um dos bandidos decidiu atirar. O disparo atingiu o braço, a vítima teve que parar e ter a moto levada. O crime ocorreu em Limoeiro do Norte, lugar que uma década atrás era conhecida por "cidade das bicicletas". Agora é das motos.
Um fato é pouco considerado por muitos motociclistas, os mesmos que temem ter as motos roubadas: o roubo alimenta a oficina de desmanche, que tem sua razão de ser em quem compra as peças de veículos a preços baixos e sem nota fiscal. É uma lógica análoga à das drogas ilícitas: só há tráfico porque tem quem compre. Comprar uma peça de moto sem nota fiscal e a preço abaixo do mercado pode ser contribuir para uma estatística que inclua a moto do próprio comprador das peças.
A facilidade na compra de motocicletas e a deficiente fiscalização de trânsito nos Municípios tem propiciado um verdadeiro "boom" de motos pelas ruas cearenses. Tem moto colorida, moto alta ou pequena. Algumas (as de 100 cilindradas) são as preferidas das mulheres. Outras, de estilo "adventure", são as preferidas dos homens. Já os bandidos não têm muita preferência. Como que melhor do que a bolsa é o que tem dentro dela.
Crime
1.905 Motocicletas foram roubadas no Ceará de janeiro a julho deste ano. Do total, 764 (ou 40%) foram localizadas. E boa parte delas já "variada" pelas oficinas de desmonte.
Desmonte
De acordo com o inspetor Marcos Vágner, da Delegacia de Polícia Civil de Limoeiro, a maior parte dos roubos é levada para desmanche. É o mesmo que diz o delegado Bruno Figueiredo, titular da Delegacia de Roubos e Furtos, em Fortaleza, que recebe as estatísticas de roubos e furtos de todo o Estado. E os ladrões são rápidos. Se o veículo não for usado para outros crimes (notadamente pistolagem e assaltos), moto roubada é moto desmontada.
De janeiro a julho deste ano, das 1.905 motos roubadas no Ceará, 764 (ou 40%) foram localizadas. E boa parte delas já avariada pelas oficinas de desmonte. Os outros 60% a própria polícia admite que são poucas as chances de recuperação.
Tiro no braço
Na estatística dos sete primeiros meses deste ano, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Caucaia e Crato figuram entre os Municípios com maior índice de roubos. Já uma estatística fiel sobre onde vão parar esses veículos infelizmente está ao cargo do crime organizado. Somente no mês de julho, o Ceará registrou o roubo de 145 motocicletas.
E os encarregados de capturar as motos na garagem de casa ou no meio da rua estão geralmente armados e dispostos a atirar. Na semana passada, prevendo ser assaltado por homens que estavam no acostamento de uma estrada carroçável, um motoclista decidiu não parar. Um dos bandidos decidiu atirar. O disparo atingiu o braço, a vítima teve que parar e ter a moto levada. O crime ocorreu em Limoeiro do Norte, lugar que uma década atrás era conhecida por "cidade das bicicletas". Agora é das motos.
Um fato é pouco considerado por muitos motociclistas, os mesmos que temem ter as motos roubadas: o roubo alimenta a oficina de desmanche, que tem sua razão de ser em quem compra as peças de veículos a preços baixos e sem nota fiscal. É uma lógica análoga à das drogas ilícitas: só há tráfico porque tem quem compre. Comprar uma peça de moto sem nota fiscal e a preço abaixo do mercado pode ser contribuir para uma estatística que inclua a moto do próprio comprador das peças.
A facilidade na compra de motocicletas e a deficiente fiscalização de trânsito nos Municípios tem propiciado um verdadeiro "boom" de motos pelas ruas cearenses. Tem moto colorida, moto alta ou pequena. Algumas (as de 100 cilindradas) são as preferidas das mulheres. Outras, de estilo "adventure", são as preferidas dos homens. Já os bandidos não têm muita preferência. Como que melhor do que a bolsa é o que tem dentro dela.
Crime
1.905 Motocicletas foram roubadas no Ceará de janeiro a julho deste ano. Do total, 764 (ou 40%) foram localizadas. E boa parte delas já "variada" pelas oficinas de desmonte.
O Ceará ainda está despreparado para a legislação do trânsito envolvendo motos. Uma das obrigatoriedades é mototaxistas passarem por aulas de capacitação, o que ainda não ocorre.
JANEIRO A JULHO
Acidentes causam 86 mortes neste ano
Os acidentes com motos respondem pelas principais ocorrências de agravos acidentais nos hospitais do Ceará. Nem só do Interior, porque os casos mais graves são levados para Fortaleza. O não-uso de capacete e a falta de carteira de habilitação aumentam as chances de sair de casa e parar no hospital. Uma "simples" queda de veículo em uma rua no Centro da cidade é suficiente para o maior dos estragos. Não há um dado muito recente sobre a totalidade de acidentes de motos em todo o Ceará, mas a estatística de ocorrências nas rodovias estaduais já dão dimensão do problema.
Nos sete primeiros meses do ano foram 533 acidentes com motocicletas, dos quais resultaram em 86 mortes. Isso representa 41% do total de vítimas fatais nas rodovias estaduais neste ano. Estimativa não-oficial aponta para um número quatro vezes maior se somadas as mortes nas rodovias federais e nas vias públicas municipais. Atropelamento e colisão são as maiores causas de morte. Em sete anos, aumentou duas vezes e meia o número de motocicletas trafegando no Ceará.
Pelo menos 16% dos acidentes, envolvendo todas as modalidades, nas rodovias estaduais do Ceará resultaram em mortes. E esses óbitos representam cerca de 40% das vítimas fatais (206, no total) de janeiro a julho deste ano. Mas antes de virar uma estatística na Polícia, o acidente vai da estrada para o hospital. Em Limoeiro do Norte, somente nas duas primeiras semanas deste mês, 48 acidentados envolvendo motos deram entrada no Hospital Regional Deoclécio Lima Verde. É uma média de três acidentados por dia. O hospital atende Limoeiro, Tabuleiro, Quixeré e São João do Jaguaribe. Em todo o Ceará, se comparado com o mesmo período de 2010 (janeiro a julho), aumentou 200% o número de vítimas de acidentes com motos que não usavam o capacete.
Sem habilitação
A situação é mais dramática no Instituto Dr. José Frota, em Fortaleza. Para comprovar a relação entre o transporte irregular e os atendimentos na saúde pública, o médico Lineu Jucá apontou que em janeiro de 2007 e fevereiro de 2008 uma média de 54% dos acidentados em motos não possuíam carteira de habilitação. Se comparados aos acidentes de carro, as ocorrências com motos são 27,5% mais graves para os envolvidos. Em 2010, o IJF realizou 6,3 mil atendimentos de acidentes com moto. Destes, 69% provinham do interior do Estado. Nos três primeiros meses do ano passado, 62% dos acidentes com motos (cujas vítimas foram para o IJF) aconteceram entre sexta-feira e domingo.
Maior taxa
Conforme Mapa da Violência 2011, já divulgado pelo Diário do Nordeste, dos 20 Municípios brasileiros com maior taxa de óbitos por acidentes de moto, em 2008, cinco são cearenses. Tabuleiro do Norte, no Vale do Jaguaribe, ocupava a quinta posição, com taxa de 34 óbitos por 100 mil habitantes (Município possui 27 mil habitantes). Nova Russas ocupava a oitava posição, seguido de Limoeiro do Norte (11ª colocação), Sobral (12ª) e Fortaleza (20ª).
O Ceará aumentou 149% o número de motos entre 2004 e 2010. São praticamente duas vezes e meia mais motos pelas estradas cearenses num intervalo de sete anos. Os dados são da Diretoria de Planejamento do Detran. Em valores absolutos, o Ceará passou de 282.826 motocicletas, em 2004, para 705.091, em 2010.
Informações: Diário do Nordeste / Reportagem: Melquíades Júnior
Os acidentes com motos respondem pelas principais ocorrências de agravos acidentais nos hospitais do Ceará. Nem só do Interior, porque os casos mais graves são levados para Fortaleza. O não-uso de capacete e a falta de carteira de habilitação aumentam as chances de sair de casa e parar no hospital. Uma "simples" queda de veículo em uma rua no Centro da cidade é suficiente para o maior dos estragos. Não há um dado muito recente sobre a totalidade de acidentes de motos em todo o Ceará, mas a estatística de ocorrências nas rodovias estaduais já dão dimensão do problema.
Nos sete primeiros meses do ano foram 533 acidentes com motocicletas, dos quais resultaram em 86 mortes. Isso representa 41% do total de vítimas fatais nas rodovias estaduais neste ano. Estimativa não-oficial aponta para um número quatro vezes maior se somadas as mortes nas rodovias federais e nas vias públicas municipais. Atropelamento e colisão são as maiores causas de morte. Em sete anos, aumentou duas vezes e meia o número de motocicletas trafegando no Ceará.
Pelo menos 16% dos acidentes, envolvendo todas as modalidades, nas rodovias estaduais do Ceará resultaram em mortes. E esses óbitos representam cerca de 40% das vítimas fatais (206, no total) de janeiro a julho deste ano. Mas antes de virar uma estatística na Polícia, o acidente vai da estrada para o hospital. Em Limoeiro do Norte, somente nas duas primeiras semanas deste mês, 48 acidentados envolvendo motos deram entrada no Hospital Regional Deoclécio Lima Verde. É uma média de três acidentados por dia. O hospital atende Limoeiro, Tabuleiro, Quixeré e São João do Jaguaribe. Em todo o Ceará, se comparado com o mesmo período de 2010 (janeiro a julho), aumentou 200% o número de vítimas de acidentes com motos que não usavam o capacete.
Sem habilitação
A situação é mais dramática no Instituto Dr. José Frota, em Fortaleza. Para comprovar a relação entre o transporte irregular e os atendimentos na saúde pública, o médico Lineu Jucá apontou que em janeiro de 2007 e fevereiro de 2008 uma média de 54% dos acidentados em motos não possuíam carteira de habilitação. Se comparados aos acidentes de carro, as ocorrências com motos são 27,5% mais graves para os envolvidos. Em 2010, o IJF realizou 6,3 mil atendimentos de acidentes com moto. Destes, 69% provinham do interior do Estado. Nos três primeiros meses do ano passado, 62% dos acidentes com motos (cujas vítimas foram para o IJF) aconteceram entre sexta-feira e domingo.
Maior taxa
Conforme Mapa da Violência 2011, já divulgado pelo Diário do Nordeste, dos 20 Municípios brasileiros com maior taxa de óbitos por acidentes de moto, em 2008, cinco são cearenses. Tabuleiro do Norte, no Vale do Jaguaribe, ocupava a quinta posição, com taxa de 34 óbitos por 100 mil habitantes (Município possui 27 mil habitantes). Nova Russas ocupava a oitava posição, seguido de Limoeiro do Norte (11ª colocação), Sobral (12ª) e Fortaleza (20ª).
O Ceará aumentou 149% o número de motos entre 2004 e 2010. São praticamente duas vezes e meia mais motos pelas estradas cearenses num intervalo de sete anos. Os dados são da Diretoria de Planejamento do Detran. Em valores absolutos, o Ceará passou de 282.826 motocicletas, em 2004, para 705.091, em 2010.
Informações: Diário do Nordeste / Reportagem: Melquíades Júnior