Eles pedem aterro sanitário, coleta seletiva nas residências e que o consórcio intermunicipal saia do papel.
Todo Município em que o destino de resíduos sólidos não foi uma prioridade política tem ao menos um lixão. O amontoado de entulhos, principalmente domésticos, só não é maior porque, todos os dias, mulheres e homens voluntários, obrigados da necessidade de sobreviver, catam o material que pode ser reciclado. Desrespeitados, vítimas de preconceito, trabalhando horas em ambiente insalubre, ganhando pouco e ao mesmo tempo agentes de preservação ambiental, os catadores soltam a voz pelos direitos de todos, cobrado por poucos. Representantes de associações de catadores do Ceará realizam uma grande marcha, amanhã, em Limoeiro do Norte. Eles pedem aterro sanitário, coleta seletiva nas residências e que o consórcio intermunicipal do aterro sanitário no Baixo Jaguaribe, criado há dois anos e meio, saia do papel.
Antônio Lopes da Silva tira o seu sustento do lixão de Limoeiro do Norte. Amanhã, ele participa da marcha. (Foto: Melquíades Júnior)
E papel é o que não falta nos lixões. Papel, plástico, metal, móveis velhos, caixas de remédio, brinquedos quebrados, seringas usadas. Feiura e odor são típicos de um lixão, grande foco de doenças. Mas é de onde Maria Rubens Saldanha tira o seu sustento há 24 anos. "Pêdinha", como é conhecida, transforma material reciclável em dinheiro. Escala a montanha de lixo com um intuito: catar o que presta e deixar o que não se reaproveita. Cada ponto para o meio ambiente é também ponto na mesa de casa, onde se faz a refeição e se calcula as contas a pagar também. Mesmo que um mês inteiro de trabalho ao sol não lhe renda mais de R$ 400,00. É com o pouco que tem, pelo que "Deus dá", que Pêdinha faz a ginástica financeira para no fim do mês "não ficar devendo".
Os catadores se protegem de forma improvisada, geralmente com material encontrado no próprio lixão. Eles reaproveitam os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) jogados pelos trabalhadores das empresas agrícolas da Chapada do Apodi. Roupa de quem colhia frutas ou aplicava veneno, agora veste quem cata papel, plástico e vidro. Funções diferentes em locais diferentes, mas os rendimentos não mudam muito, conforme o catador Deuzimar Arruda Bezerra, que tem um filho que colhe cachos de banana numa empresa agrícola multinacional na Chapada do Apodi. Deuzimar é esposo de Maria Rubens Saldanha, a Pêdinha. É com a mulher que divide a labuta de catar há mais de duas décadas. "Criamos nossos filhos com o trabalho aqui", comenta. Hoje Edineudo Saldanha, 19, faz curso técnico em Fortaleza, enquanto Edileudo é trabalhador agrícola em Limoeiro. O casal faz parte da diretoria da Associação dos Catadores de Limoeiro, sendo Maria Rubens a presidente. (Fonte: Diário do Nordeste, por Melquíades Júnior)
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