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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Toda a alegria da ‘Dama de Vermelho’

A natureza tratou de presentear o povo de Limoeiro do Norte com a “Dama de Vermelho”. Moça bastante distinta, com roupas à moda Anos 40, sombrinha na mão, muitas pulseiras, colares, gigolé com laço enorme e até um crachá de identificação criado por ela, como se precisasse: “Bethânia, a primeira dama de vermelho de Limoeiro”. Não tem outra cor. Tem passos tão rápidos quanto a fala (sem atropelar palavras) e fôlego para andar a cidade todos os dias. “Ai, que eu sou muito importante. Vou aparecer no jornal”, já saiu espalhando pela cidade após o encontro com a reportagem.

Ana Bethânia Costa e Silva, 26 anos, sempre foi diferente, especial. Tem deficiência mental, mas memória invejável. Sabe os nomes completos de todos os ministros, diretores de instituições públicas federais – todo dia assiste à TV Câmara. Registra, como poucos, datas e acontecimentos. Dona Maria Carmelita, que Betânia chama de “Mãe-Natureza”, conta que percebeu desde os primeiros meses de vida que a filha era especial: com apenas sete meses, ela já andava e falava as palavras básicas, comum às crianças acima de 1 ano. As duas, o pai e um sobrinho trocaram a zona rural pelo centro da cidade.

Bethânia virou a dama de vermelho há pouco mais de dois anos, quando chegou em casa e disse à mãe que dali em diante só vestiria vermelho. Doou todas as roupas que não fossem vermelhas e vermelhou-se dos pés à cabeça. Possui 52 pulseiras, 34 vestidos, 17 gigolés, 10 pentes, 44 colares e seis bolsas. “Tudo meu é vermelho, a cor da paixão e do amor”. O valor simbolizado pelo vermelho, de paixão, desejo eternizado na literatura e no cinema, contrasta com a inocência infantil de Betânia. Ela é meiga e atenciosa com todo mundo. Dia desses, desenhou cartões com ‘recadinhos do coração’ e entregou aos mototaxistas de Limoeiro.

 
Como se não bastasse, ela tem amor declarado, e platônico, pelo radialista limoeirense Tom Gurgel. Diz que é seu paquera, mas fala como uma criança que diz que namora. O radialista não se importa. “Levo na brincadeira. Ela é uma pessoa muito querida”. A bem querença ou paquera é registrada em inúmeros desenhos, feitos por ela, com os dois abraçados, de mãos dadas, beijando-se, e uma foto que leva para onde for.

A “mãe-natureza’ de Bethânia, dona Carmelita, diz que no começo ficou preocupada com a filha saindo na rua, mas “eu converso muito com ela, determino horário e os dias em que pode sair. E ela obedece”, diz a mãe, que replica a filha de “minha rainha de vermelho”. E quase todos os dias, pela manhã e à tardinha, no corre-corre da labuta citadina, de pessoas ocupadas e estressadas, lá se vai a Dama de Vermelho com seu guarda-sol, cartões românticos e puxando conversa com quem passa. Colorindo o ambiente e o dia das pessoas.

Fonte: Blog Diário Vale do Jaguaribe, por Melquíades Júnior
(Esse texto, com atualização, foi publicado originalmente em 2006 no Caderno Regional do Diário do Nordeste. Mas Bethânia continua a mesma).

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